AÍ VEM O DILÚVIO (1981-1999)

Abram as cortinas. Temos o prazer de anunciar a estreia do quadro especial do Opinião de Peso – “Vamos Falar Sobre Musicais”. As postagens serão mensais.

Convidamos o designer gráfico e ilustrador, Jonas Pina, para fazer uma arte exclusiva sobre o espetáculo.

O porquê do quadro/escolha do musical homenageado

O nosso site tem cinco anos, mas a minha paixão por teatro vem desde a infância. Agradeço aos meus pais por me levarem ao teatro com uma certa regularidade. Primeiro, foram as peças infantis e depois as adultas.

O primeiro espetáculo adulto que me marcou foi o que falaremos hoje. Tinha 10 anos quando pude assistir pela primeira vez (voltei outras duas vezes). Foi algo mágico. Não pude assistir os primeiros musicais que foram apresentados no país a partir de 1962, então pensa em uma criança que viu um espetáculo com cerca de 3 horas de duração; 35 atores no palco atuando, cantando e dançando; um palco giratório, com vários cenários; uma arca de mais de 10 metros de diâmetro montada no palco; efeitos especiais, vários figurinos; uma música contagiante, e ainda que levou para a casa uma fita K-7 com a trilha sonora. Confirmou na hora minha paixão por Teatro e Teatro Musical.

Depois, há 25 anos, participava de um grupo de jovens na paróquia do colégio, onde estudei. Surgiu a ideia de fazermos uma peça de final do ano. Durante uma festa, por cerca de duas horas, escrevi a peça inteira baseada naquele primeiro musical. Fiz uma cópia da fita e deixei com eles. Fui morar em outra cidade. Voltei somente para a apresentação. As lembranças voltaram com força (sim, fiquei muito emocionado com o resultado).

Com o site, a minha preocupação além de postar notícias e divulgar a cena teatral de São Paulo (às vezes do Rio de Janeiro, da Broadway, de West End), é também informar sobre a nossa história e cultura teatral. E é tão difícil. As informações são esparsas, raras. Mas, como diz uma canção do musical, uma formiga só não move uma montanha, mas muitas formigas são exemplos de uma comunidade e movem a montanha.

O musical de estreia é “Aí Vem o Dilúvio”.

A história

O espetáculo conta a história do segundo dilúvio universal. A ação se passa na pequena vila de San Crispim. Padre Silvestre recebe uma ligação telefônica inusitada de Deus. Ele enviará um novo dilúvio à Terra, e só poupará os moradores e animais da vila. Para tanto, Padre Silvestre precisará construir uma arca, com o auxílio dos moradores. Quando ele conta para a população sobre a arca, os moradores ficam incrédulos. Para provar a veracidade, Padre Silvestre realiza um milagre. O prefeito e o bispo se opõem à construção. Mas o padre consegue realizar seu objetivo, com o auxílio da filha do prefeito, Clementina, que é apaixonada perdidamente pelo religioso. O dilúvio começa, mas na arca só estão Silvestre e Clementina. O padre vai contra os desígnios de Deus e se esforça ao máximo para ajudar a população entrar na arca. Deus apieda-se e cessa a chuva. Ao término, com todos celebrando juntos, sentados ao redor de uma mesa, Deus faz-se presente na figura de uma pomba.

Garinei e Giovannini

O musical

Comédia musical italiana em dois atos, “Aggiungi un posto a távola” (“Adicione um assento à mesa”/”Lugar na mesa”) foi escrita entre 1973 e 1974, por Sandro Giovannini, Pietro Garinei e Iaia Fiastri.

O espetáculo é baseado no conto inglês “After Me, The Deluge” (“Depois de mim, o Dilúvio”), de 1972, de David Forrest (pseudônimo dos autores Robert Forrest-Webb e David Eliades).

A direção é de Giovannini e Garinei. A música é de Armando Trovajoli; cenografia e figurinos de Giulio Coltellacci; a coreografia é de Gino Landi.

Devido ao cenário feito todo de madeira, a produção custou 250 milhões de liras italiana (Tentamos fazer uma conversão, mas a lira foi substituída pelo euro em 1999. A inflação italiana também teria que ser avaliada. Apenas para uma ideia, o valor hoje seria aproximadamente 196 mil euros)

O elenco foi quem escolheu o título através de uma votação.

O musical estreou no Teatro Sistina, em Roma (Itália), em 8 de dezembro de 1974. A temporada teve uma duração de seis meses, algo inédito.

Johnny Dorelli, Paolo Panelli, Valores Bice, Ugo Maria Morosi, Daniela Goggi, Christy, Carlo Piantadosi, Renato Turi, entre outros, fizeram parte do elenco original.

Desde sua estreia, passado mais de 45 anos, o espetáculo já foi remontado outra sete vezes na Itália.

Montagens em outros Países

O musical foi traduzido para mais de 10 idiomas e visto por mais de 15 milhões de pessoas. Foi apresentado em Viena (Áustria), Lubecca (Alemanha), Londres (Inglaterra), Madri e Barcelona (Espanha), Buenos Aires (Argentina), Santiago de Chile (Chile), Cidade do México (México), Caracas (Bolívia), Moscou e Sverdlovsk (Rússia), Hungria.

Produção brasileira

A primeira montagem (1981)

O empresário argentino Carlos Pedro Spadone resolveu trazer o espetáculo para o Brasil. A montagem custou 450 mil dólares.

A direção foi de Plínio Rigon. A adaptação de Paulino Brancato Jr. O assistente do coreógrafo Carmelo Anastasi veio da Itália para auxiliar na montagem. A direção artística foi dos irmãos Ramon e Antonio Ribas. A direção de produção foi de Billy Bond.

Os ensaios começaram em abril de 1981. Dois meses depois, abria as cortinas no Teatro Sérgio Cardoso (São Paulo). Em agosto de 1982, o espetáculo foi apresentado no Teatro Carlos Gomes (Rio de Janeiro). Ao todo, o espetáculo fico em cartaz por 2 anos e meio.

No elenco, de ambas as cidades, passaram nomes como Luiz Carlos Clay, Vivan Costa Manso, Mauro Gorini, Luiz Guilherme, Liane Maia, Tadeu Aguiar, Sylvia Massari, Paulo Idelfonso, Rita Malot, Salomé Parísio, Sergio de Melo e Cláudio Lopomo.

A segunda montagem (1999/2000)

Dezoito anos se passam, Black & Red Produções (Billy Bond) e a CIE Brasil (atual Time For Fun) decidem remontar o musical.

O teatro escolhido foi o Teatro Opera (do outro lado da rua Rui Barbosa, bem próximo ao Teatro Sérgio Cardoso).

A direção geral é de Billy Bond. A direção cênica é de Sebastião Apolônio. A adaptação é de Raul Solnado. A direção musical é de Sérgio Sá. A coreografia é de Rosely Fiorelli. Para esta montagem, que custou mais de 500 mil dólares, os cenários de Renato Scripilliti vieram da Espanha.

O elenco desta montagem contava com nomes como Marcos Tumura, Alessandra Maestrini, Jarbas Homem de Mello, Fabio Yoshihara, Katia Barros, Eudes Carvalho.

Números musicais

Para o musical italiano, foram compostas 13 canções, apresentadas em 17 números

Primeiro atoSegundo ato
Adicione um assento à mesaA balada de San Crispino
Pena que é um pecadoPena que é um pecado (reprise)
Eu estou calmoClementina
Concerto para padre e sinosEu quero você
Jogue foraQuando a arca para
Noite para não dormirAmor na minha opinião (reprise)
ConsolaçãoAdicione um assento à mesa (final)
Noite para não dormir (reprise) 
Amor na minha opinião 
Uma formiga é apenas uma formiga 

No Brasil, na primeira montagem (1981), foi lançado um disco LP do musical por duas gravadoras

FaixasContinental DiscosSom Livre
A1Um Lugar Na MesaEra Uma Vez…
A2Que Pena Que Seja PecadoUm Lugar Na Mesa
A3Padres e SinosQue Pena Que Seja Pecado
A4Bela Noite Sem SonoCalma!!!
A5Isto É O AmorBela Noite Sem Sono (1a Parte)
A6 Bela Noite Sem Sono (2a Parte)
B1As FormigasBalada de San Crispin
B2San CrispinAs Formigas
B3Doce ClementinaDoce Clementina
B4A PombinhaA Pombinha
B5Um Lugar Na MesaIsto É O Amor
B6 Um Lugar Na Mesa (Final)

Segue o número de Abertura da montagem de 1999.

Vamos postar as versões de “Um Lugar na Mesa” em inglês e espanhol; e também a montagem italiana de 1990.