OS RAPAZES DA BANDA

Estamos no final da década de 60 em Nova York. Uma época representada pela perda da inocência do sonho americano, pelas experiências com as drogas, pela revolução sexual e amor livre, pelo psicodelismo e pelos… “Os Rapazes da Banda”.

Os Rapazes da Banda” (“The Boys in the Band“) é uma peça de Mart Crowley. Lançada em 14 de abril de 1968, na Off-Broadway, foi a primeira peça com temática inteiramente LGBTQI+.

Conta a história de um grupo amigos que se reúnem na casa de Michael, enquanto aguardam a chegada de Harold, para comemorarem seu aniversário. No decorrer dessa noite, muitas histórias guardadas serão trazidas à tona, e muitos acertos de conta acontecerão. 

O título remete a uma fala do filme “Nasce uma Estrela” (“A Star is Born” – 1954), quando o personagem de James Mason fala para Judy Garland – “Você está cantando para você mesma e para os meninos da banda”. (Judy Garland, a eterna Dorothy do Mágico de Oz, que é um ícone para a comunidade LGBTQI+).

Os Rapazes da Banda” é uma história cheia de simbologia. A comunidade LGBTQI+ ainda vivia sob a castração imposta pelo Código Hays, um conjunto de normas de 1930, que determinava o que podia e o que não podia na cultura. Personagens LGBTQ+ só se fossem vilões ou morressem antes do ‘final feliz’. A luta pela libertação – Stonewall – só aconteceria um ano depois.

Esta história foi progressista, como se já antecipasse o que estava por vir. Mas mesmo assim, ainda cheia de personagens estereótipos: o não assumido para a sociedade, o afeminado, o garanhão, o recém separado de um casamento hetero,… e um ‘hetero’ (fica a sua decisão saber se ele é ou não).

No começo da trama, os personagens circulam pelas ruas – lugar ‘ainda público’, onde podem ver e serem vistos, flertarem e receberem olhares de desaprovação. Todos se encaminham para o apartamento de Michael, onde acontecerá a festa. Neste apartamento – ambiente fechado, longe dos olhos da sociedade – eles podem ser quem realmente são. (até a chegada do convidado hetero, quando Michael pede para que eles não ‘deem pinta”.

Durante a noite, são abordadas questões como homofobia, a saída do armário, o envelhecimento, a não aceitação, a solidão, monogamia x relacionamento aberto,    Tirando um ou outro diálogo, que temos que entender foram escritos em outra época, “Os Rapazes da Banda” é atual, mesmo 50 anos depois.

A peça foi transformada em filme em 1970. No elenco, alguns nomes que estiveram no teatro – . A mesma coisa se deu agora. Em 2018 foi realizada uma nova montagem na Broadway, e os atores foram contratados para participar do filme, que foi lançado hoje pela Netflix.

Mart Crowley e o elenco filme de 1970: Kenneth Nelson, Leonard Frey, Cliff Gorman, Laurence Luckinbill, Frederick Combs, Keith Prentice, Robert La Tourneaux, Reuben Greene e Peter White
elenco filme 2020: Jim Parsons, Zachary Quinto, Brian Hutchison, Matt Bomer, Andrew Rannells, Charlie Carver, Robin de Jesus, Michael Benjamin Washington e Tuc Watkins

No Brasil, a peça foi apresentada em 1970 em São Paulo (Teatro Cacilda Becker) e depois no Rio de Janeiro (Teatro Maison de France). Com tradução de Millôr Fernandes, e direção de Maurice Vaneau e Eva Wilma, os personagens foram interpretados por Benê Silva, Benedito Corsi, Denis Carvalho, John Herbert, Gésio Amadeu, Otávio Augusto, Paulo Adário, Paulo César Pereio, Raul Cortez, Roberto Maia e Walmor Chagas.

Quer conhecer um pouco da história da comunidade LGBTQI+, vá de original. Gostamos das duas versões. Ambas retratam o ano de 1968, com figurinos, cenários, móveis de casa. Então se é para escolher o melhor retrô, vá de original.